Tocando Agora: ...

Pesquisadores identificam potencial biotecnológico em espécies de ilhas brasileiras

Publicada em: 22/07/2025 20:53 - Ciência e tecnologia

Estudo revela composição química dos zoantídeos, animais invertebrados de quatro ilhas oceânicas do Brasil, mirando em compostos bioativos e capacidade de adaptação às mudanças climáticas

Jornal da USP

Em artigo publicado na revista Química Nova, pesquisadores da USP em parceria com as Universidades Federais de São Paulo (Unifesp) e do Ceará (UFC) exploraram a diversidade química dos zoantídeos – organismos marinhos invertebrados, parentes próximos das anêmonas e dos corais, que vivem presos às rochas no fundo do mar. Devido às condições adversas impostas pelo ambiente marinho, como a presença de predadores, alta salinidade e constante variação de temperatura, seu metabolismo especializado produz substâncias com alto grau de complexidade que contribuem para sua sobrevivência.

estudo apresenta uma ampla análise da quimiodiversidade de zoantídeos provenientes de ilhas oceânicas da Amazônia Azul, disponibilizando publicamente os dados de espécies em locais ainda pouco explorados, mas com um enorme potencial bioativo. “Compreender padrões e funcionalidades ecológicas é o primeiro passo para a prospecção de substâncias com potencial biomédico ou biotecnológico”, afirma Bianca Sahm, autora do artigo, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

Os cientistas investigaram indivíduos das espécies Palythoa caribaeorum, Palythoa variabilis e Zoanthus spp., provenientes dos Arquipélagos de São Pedro e São Paulo, de Trindade e Martin Vaz, Fernando de Noronha e do Atol das Rocas. 

Os resultados indicam que tanto influências genéticas quanto ambientais são determinantes para seu metabolismo especializado, uma vez que o conjunto de metabólitos observado inclui substâncias essenciais, características de cada espécie, e uma fração dinâmica, que varia por influência do local de origem.

De acordo com Bianca, se a substância produzida por determinado organismo tem uma função na natureza é bastante provável que também seja ativa na saúde humana, podendo ser utilizada no desenvolvimento de fármacos ou em processos industriais. “Nosso primeiro passo é justamente esse olhar para as interações ecológicas, e o mar é recheado delas”, afirma.

Utilizando técnicas de química analítica – como as cromatografias líquida e gasosa e a espectrometria de massas – os pesquisadores separaram e analisaram os compostos produzidos pelos zoantídeos. Softwares especializados permitiram construir redes moleculares e comparar os perfis entre diferentes espécies e locais de coleta, que geraram uma “impressão digital química”, característica de cada amostra. O material analisado foi coletado durante expedições realizadas entre 2014 e 2015.

Mudanças climáticas

Ao analisar espécies que vivem nas ilhas oceânicas, geograficamente isoladas e afastadas da costa, os pesquisadores podem observar o metabolismo dos organismos com baixa interferência de poluição, pesca e outras alterações ambientais causadas diretamente pelos seres humanos. Ainda assim, esses organismos não estão imunes às consequências do aquecimento global.

Ana Caroline Zanatta Silva, também pesquisadora da FCFRP e autora do estudo, ressalta a importância dos resultados apresentados para a compreensão e mitigação de danos ambientais que atingem o oceano: “Primeiro precisamos saber quais substâncias que eles produzem, para depois conseguir entender como as mudanças climáticas e outras alterações no ecossistema marinho influenciam a química desses organismos”.

Esse é um dos pontos que pretende explorar o grupo de pesquisa coordenado por Letícia Veras Costa Lotufo, que se dedica, há mais de 20 anos, ao estudo de substâncias com potencial atividade anticâncer provenientes de organismos marinhos. 

De acordo com Bianca, os dados apresentados nesse trabalho podem ser considerados como ponto de partida para uma série temporal que irá analisar amostras coletadas a partir de 2015, a fim de investigar diferenças e semelhanças, principalmente depois de 2019, quando ocorreu a primeira grande onda de calor e aquecimento das águas oceânicas.

O artigo Metabolic Diversity of Zoantharians Collected at Brazilian Oceanic Islands pode ser lido neste link

Mais informações: costalotufo@usp.br, com Letícia Veras Costa Lotufo

Bolsista Mídia Ciência – Jornalismo Científico/Fapesp no LarFarMar. Adaptado para o Jornal da USP

 

** Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

 

Compartilhe:
COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!
Carregando...